ENTREVISTA COM A SACERDOTISA DANIELLE BARROS
ENTREVISTA COMPLETA COM A ARTESÃ DANIELLE BARROS
Danielle com seu livro “Sketch Book Custom” durante o lançamento
em São Paulo promovido pela Editora Criativo
Nome completo: Danielle Barros Silva Fortuna
Idade:
37
Cidade
natal: Itabuna - BA
Tem
outra profissão, além de artesã?
Professora
de ciências
Há
quanto tempo trabalha com o artesanato?
Sempre
gostei de criar artes manuais, minha mãe e meu pai sempre me
incentivaram. Eu criava de forma esporádica e sem intuito de vender.
A
criação de peças artísticas de forma mais sistemática, com uma
criatividade maior, em abundância (em termos de quantidade), maior
qualidade, e com intuito de (também) vender, começou em 2016.
Em relação aos meus desenhos, eu desenhava desde pequena, aos 11
anos parei de desenhar e retornei em 2014 quando criei minha
personagem Sibilante. Segui também na pesquisa acadêmica e criação
de materiais educativos em ciências e saúde utilizando a linguagem
dos quadrinhos e os fanzines.
Obs:
Os fanzines são revistas artesanais, cujo todo processo criativo
(desde o conteúdo textual e imagético do miolo à composição da
revista em si,- como a costura das páginas do miolo, a confecção
da arte da capa, que pode envolver pintura, arte colagem, tecido,
etc,) é de criação de seu autor.
O
que te inspira?
O
que me inspira a criar é o que me inspira a viver. É a vida, a
morte, o Cosmos, e todos os renascimentos que vivencio diariamente.
Inspiro-me na estética da art noveau, das iluminuras medievais,
zetangle, era vitoriana, arte gótica, arte sacra, tenho ainda como
influência o xamanismo, cultura celta, paganismo e tradições
indígenas. A natureza é uma fonte essencial de inspiração para
mim. Sempre
fui ligada a elementos da natureza e desde pequena levava folhas,
pedras, porções de areia nos bolsos, catava galhinhos e penas que
achava pelo caminho, como uma colecionadora de pequenos tesouros. Uma
junção de meu lado feminino, criança, mãe, bióloga e admiradora
de Gaia.
Vi
no seu perfil que você é ''Sacerdotisa'', o que isso significa para
você? Se puder, poderia me explicar se isso (e como) interfere no
seu trabalho? (tem algo a ver com religião?)
Ser
sacerdotisa não é religião, não tem nada a ver com linhas
esotéricas, nem coisa parecida (não que eu seja contra,
simplesmente não sou adepta a tais linhas), embora seja uma
iniciação e tenha a ver com o desenvolvimento da minha
espiritualidade e cura interior. Ser nomeada sacerdotisa aconteceu em
novembro de 2012, quando o artista transmídia Edgar Franco
(Ciberpajé) me escolheu como uma das pessoas mais afinadas com sua
arte e ideário. Edgar Franco é professor doutor da Universidade
Federal de Goiás (UFG), criador do universo ficcional futurista
"Aurora Pós-Humana" que ambienta suas obras em quadrinhos,
música eletrônica, arte e tecnologia, clipes, etc. Nesse universo
existem diversos seres híbridos animais/vegetais/humano/pós-humano,
espécies, "castas", culturas antagônicas pós-humanas e
digamos, nesse contexto, ser sacerdotisa é uma das formas de existir
nesse universo. Ser sacerdotisa é um ato artístico e mágico, é
uma forma de me posicionar diante do mundo como um ser único e
criador. Adotei esse nome artístico e tenho usado desde então.
Escrevi um artigo que aborda sobre o tema, publicado no periódico
acadêmico Cadernos
Zygmunt Bauman" (UFMA),
deixo o link para quem quiser conferir!
http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/bauman/article/download/8217/5191
- Sobre
seu trabalho -
Quais
peças você costuma produzir?
Eu
crio uma variedade grande: anéis,
colares, brincos, marcadores de página, braceletes, chaveiro, mini
mundos (mini terrários com plantas naturais feitos em miniatura e
colocados em cápsula de vidro para pingente), capas de grimoire,
colares,
sabonetes artesanais, etc. Estou sempre inventando! Minha
arte também se expressa nos desenhos arquetípicos, expressões do
meu universo em quadrinhos e fanzines poético-filosóficos,
dispostos em estampas de bolsas eco sustentáveis, livros, fanzines
de quadrinhos e pôsteres impressos em A3 em papel couché, entre
outros.
Quais
materiais você usa para confeccionar suas peças?
Minhas
criações buscam eternizar sensações, diante desses pequenos e
grandiosos tesouros da natureza em pingentes mágicos ou desenhos.
Os
materiais utilizados, no caso das ilustrações são: papel, lápis,
caneta nanquim. Eventualmente tinta guache em tela/quadro ou pintura
digital. No caso dos acessórios, uso
flores, folhas, galhos, terra, insetos, e outros elementos da
natureza. Na composição das peças/pingentes: metal, vidro, resina
e cordões em material sintético. Na saboaria artesanal uso
glicerina, essências naturais e ervas colhidas do meu jardim. Nas
esculturas e capas de grimórios, uso tinta, argila e porcelana fria.
Reutilizo materiais como papelão e embalagens tetrapak para
confeccionar capas de fanzines poéticos e criar marcadores de
página.
Nas
peças em que utilizo algum inseto (borboleta, abelha, formiga, etc)
eles já foram encontrados sem vida na natureza. Por esta razão,
peças com insetos são raras, pois não é fácil encontrá-los sem
vida e em bom estado para uso nas criações. Sou vegetariana, e por
respeitar a vida dos animais não faço peças com insetos por
encomenda (quando a pessoa me traz o inseto), por não conhecer a
real procedência.
A
utilização de conchas também é algo contido, pois entendo que as
conchas são partes do ecossistema marinho. Há alguns anos, achei um
saco de conchas e algas marinhas secas durante uma arrumação para
mudança, e elas iam para o lixo! Guardei-as por muito tempo sem
saber como usá-las (pois até então ainda não criava essas peças),
mas via naquelas conchas um verdadeiro tesouro! Recentemente resgatei
essa sacola de conchas e comecei a usá-las em minhas criações. Não
retiro conchas da natureza, apenas utilizo essas que tenho, quando
elas acabarem, cesso as criações com conchas, mas como uso poucas,
acho que vai durar bastante.
Enquanto
boa parte da humanidade trata o meio ambiente como lixo, eu busco
valorizá-lo fazendo das peças (usando pedras, flores e folhas) como
verdadeiras joias e tesouros, pois seu valor é inestimável! Por
isso, o uso dos elementos da natureza é feito de forma não
predatória, em peças limitadas, de forma consciente, com profundo
respeito e amorosidade.
Qual
o tempo de produção?
Variável,
de acordo com a inspiração e ideias! Como sou autônoma e não crio
sob encomenda, faço
questão de criar com liberdade e sem pressões de prazo.
Algumas pessoas quando querem adquirir algo, tem “muita pressa”,
e muitas vezes se esquecem de que o processo criativo tem um tempo
próprio. Não é incomum surgirem pedidos “com pressa” que eu
envie, mas “sem pressa” de pagar.
Tem
também aquelas pessoas que tentam estipular ou julgar o preço das
criações, afirmando ser “caro” quando desconhecem os processos
e materiais envolvidos. Muito desse comportamento tem implícita uma
desvalorização do trabalho artístico. Por exemplo, tem peça que
levo de 8 a 11 dias criando. Amo criar, meu tempo é precioso e
minhas criações são minuciosas. Para usar uma planta em uma peça,
às vezes preciso passar semanas “tratando” aquela planta para
que ela seja utilizada de forma adequada. Tenho também que montar
com muita paciência aquela composição e ficar horas durante o dia
cuidando para que no processo de secagem aquela montagem se mantenha.
Tem peças que são feitas em minutos, e outras são feitas ao longo
de um mês.
Além
disso, vejo com certa frequência, sobretudo nessa era das redes
sociais e ostentações imagéticas, pessoas a ostentar e consumir
banalidades como esses produtos feitos em série (e muitas vezes com
trabalho escravo) virem querer colocar preço ou dizer que meu preço
está elevado. Em certos momentos tenho vontade de dizer: “já que
está achando caro, por que não faz você?”. Ou seja, muitos
querem a comodidade e a beleza de uma peça feita à mão e
exclusiva, mas querem pagar a preço de uma peça da China ou
pirateada. Há
todo um repertório de estudo, de experiências, de investimento
financeiro em cursos e materiais para o desenvolvimento da
qualificação do processo criativo que a maioria desconhece.
Outra
situação foi dizerem que minha peça é “baratinha” demais. A
meu ver, isso se deve a certos preços abusivos que tenho visto serem
cobrados por certas lojas. Eu sempre busco colocar preços justos no
que eu faço, de modo que eu possa continuar criando, comprando
matérias primas e que minhas criações sejam acessíveis: com um
público especial, mas não excludente, ou seja, não busco atender
apenas o público elitizado financeiramente, mas sim de forma
abrangente a todas as pessoas que amam a natureza e gostam de
adornar-se com elementos da mesma, oferecendo peças de diversos
tamanhos, tipos e preços.
Quando
comecei a trabalhar com flores em medalhas há alguns anos tinha
pouca gente fazendo, hoje em dia tem bastante... Acho válido, apesar
de achar lamentável as constantes "cópias" das ideias e
designs, e outros tipos de plágios, mas isso já é um tema para
outra conversa!
A
meu ver, o grande desafio de se trabalhar com arte, - quando o
artista precisar viver dela, - é que fatalmente acabará maculando
seu processo criativo. Porque quando você cria para atender uma
demanda de mercado, o “cliente”’ vai querer opinar, criticar,
encomendar, desrespeitando a obra e a criação genuína do criador.
Se o artista arrefecer e buscar atender a nichos e demandas de
vendas, enquadrando-se a essas demandas prévias, terá sua liberdade
criativa cerceada e sua arte vai morrer. Por isso uma alternativa que
eu encontrei foi buscar diversas formas de renda e quando vendo
alguma arte que criei só faço como “pronta entrega”, porque
assim a pessoa vai adquirir algo que EU FIZ de forma livre. Se a
pessoa quiser encomendar algo que eu não quero fazer, que não saiu
da minha criatividade, mesmo me pagando bem, eu não faço.
Ainda
bem que existem as pessoas que realmente valorizam a arte, e é
importante ressaltar! A valorização da arte não se restringe a
comprar, e sim a prestigiar, apoiar, comentar, divulgar, incentivar,
etc. Em relação às pessoas que adquirem, tem ainda aquelas que
respeitam a autoralidade, o tempo de criação, de envio, e acabam
criando uma conexão não apenas com a obra, mas também com a
criadora. Uma sinergia muito boa!
Para
finalizar, penso que em nossa cidade falta agregar os artistas e
promover a arte regional de forma mais eficaz. Temos um grupo no
facebook denominado Artistas de Teixeira de Freitas – BA cuja
descrição é “A
ideia de criar o grupo partiu do desejo de agregar artistas
(desenhistas, músicos/musicistas, atrizes/atores, artesãs/artesãos,
pintores/as, quadrinhistas, palhaços/as, gravuristas, escultores/as,
educadores/as, etc), para que possamos divulgar nossa arte e nos
organizar, propor eventos na cidade, fomentar nossa cultura e
identidade em Teixeira de Freitas.”
A
ideia é que cada artista possa divulgar sua arte e futuramente
possamos nos reunir coletivamente para propor exposições, feiras e
eventos na cidade. O link do grupo é:
https://www.facebook.com/groups/521623008006480/
"Gostaria
de agradecer imensamente a oportunidade de poder falar sobre minha
atuação, minhas ideias e criações artísticas!"
__________________
Sobre
mim:
Sou artista, nasci em Itabuna-BA e moro em Teixeira de Freitas. Sou
formada em biologia pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) no
campus de Teixeira de Freitas; tenho duas especializações na área
de ciências e saúde, mestrado em Ciências na área de Comunicação
e Informação em Saúde (ICICT/Fiocruz), e doutorado em
Ciências na área de
Ensino de Biociências e Saúde (IOC/Fiocruz). Uso o nome artístico
“IV Sacerdotisa da Aurora Pós-Humana”, por integrar um universo
mágicko de ficção científica criado pelo artista Edgar Franco que
ambienta as criações transmídia em quadrinhos, música eletrônica,
performances artísticas, HQforismos, etc. Sou pesquisadora
do Grupo de Pesquisa CRIA_CIBER (Criação e Ciberarte) na Linha de
Pesquisa Arte, Linguagens Intermídia e Narrativas Híbridas da
Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás. Minha
pesquisa de doutorado teve o foco de pesquisa no estudo sobre
materiais educativos em ciências/saúde e quadrinhos e fanzines no
âmbito da educação científica. Atuo como arte educadora com
quadrinhos e fanzines no ensino de biociências e saúde, escrevo
poesias, faço ilustrações, HQforismos, quadrinhos
e fanzines, com realização de oficinas criativas em todo país.
Contatos:
Facebook:
https://www.facebook.com/IVSacerdotisaDanielleBarros/
Blog
“A Arte da IV Sacerdotisa”: https://ivsacerdotisa.blogspot.com/
Instagram:
https://www.instagram.com/sacerdotisadaniellebarros/?hl=pt-br
Loja
Virtual: https://www.elo7.com.br/auroraposhumana/loja
Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2736451028689135
Meu
contato de email: danbiologa@gmail.com
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